Glossário


A

Análise Bioenergética. É um modelo psicoterapêutico, de raiz psicodinâmica, que trabalha com aspectos somáticos, psíquicos, emocionais e interpessoais. O modelo desenvolveu-se a partir do trabalho de Wilhelm Reich, que investigou a relação entre a organização da personalidade e o corpo. Alexander Lowen desenvolveu as ideias de Reich, propondo um modelo integrativo, que relaciona vários impulsos do desenvolvimento individual com padrões da organização somática, incluindo tensões musculares, por exemplo, a contracção crónica ou a flacidez dos músculos e as posturas corporais habituais, que correspondem a posições psicológicas, atitudes, estilos de interacção e a padrões cognitivos e que, em conjunto, cooperam entre si, na forma de uma estrutura de carácter. A análise bioenergética desenvolveu-se originalmente nos EUA, mas é agora praticada em vários países. A maior parte dos terapeutas pertence a sociedades locais e ao Instituto Internacional de Análise Bioenergética. (Scott Baum, Encyclopedia of Theory in Counseling and Psychotherapy: Bioenergetic Analysis, 2015).

Ansiedade. As defesas psíquicas e físicas que formamos têm a função de nos proteger, mas nesse percurso, podem contribuir para provocar exactamente situações que favorecem a emergência de ansiedade. Qualquer acção terapêutica produz inicialmente uma experiência de ansiedade, uma vez que convida a olhar para as defesas de uma forma mais objectiva.


B

Bowlby, J. Psicanalista inglês, formulou a teoria do attachment, postulando que um conjunto de comportamentos do bebé, alguns estreitamente relacionados com a função alimentar e outros não, têm a função de o vincular à mãe, naquilo que é um trabalho de equipa, de conjunto e de interacção mútua, com a figura cuidadora. A relação de vínculo é essencial para a sobrevivência e construção do Self.


C

Carácter. O conjunto de defesas de uma pessoa, organizado como um sistema holístico e interligado, que serve de escudo, face aos outros e ao contexto, mas que também pode camuflar reacções emocionais internas. Trata-se de uma estrutura relativamente estável, na qual este conjunto de defesas é habitual e, em grande medida, não conscientes, que inclui dimensões somáticas, psicológicas e cognitivas. Por exemplo, alguém que tenha passado por experiências de medo relativamente cedo na vida e se tenha retirado para um espaço interior auto-protector, tenderá a ter um corpo mais contraído, com menor capacidade de expansão – na forma como respira, no estado de humor, na interacção com os outros, com dificuldade em ser flexível, psíquica, fisicamente e no plano interpessoal e situações de maior estimulação, emocional ou interpessoal, poderão ser vivenciadas com maior penosidade. (Scott Baum, Encyclopedia of Theory in Counseling and Psychotherapy: Bioenergetic Analysis, 2015).


D

Direitos. A existir. A pedir. A ser assertivo e a defender a sua posição. A ser vulnerável. A sentir e a entregar-se.


E

Emoção. A emoção é um movimento para o exterior (do latim “e”, para fora, e “movere”, mover, movimentar), manifestando-se numa acção e tem uma implicação mental e física. A percepção tem lugar na esfera mental, o movimento no plano físico.



G

Games People Play. O livro é de Eric Berne, psiquiatra americano, que se debruçou sobre a forma como preenchemos o tempo e a função das várias modalidades de interacção humana para atingir esse objectivo. 1) Rituais, conjunto de transacções complementares, programadas por forças externas, em que a tradição e o protocolo tem um peso preponderante, proporcionando alívio e/ou legitimação, pela conformidade com os papéis e expectativas sociais; 2) Passatempos, sequências de transacções complementares, semi-ritualizadas, que acontecem, em geral, em festas ou em períodos de espera antes de um encontro formal. Além de estruturar o tempo, exercem outra função, ao permitirem uma espécie de processo de selecção social. Cada jogador avalia os outros presentes e, no final, selecciona certos jogadores que quererá encontrar mais vezes, que serão os candidatos mais prováveis para relações mais complexas, os Jogos. 3) Jogos, que formam a estrutura básica das dinâmicas familiares, aprendidos rapidamente pela criança desde os primeiros meses, componentes integrais de planos de vida não conscientes. A característica dos jogos é o facto das emoções serem reguladas, o que implica que os jogos podem ser sérios e, até, fatalmente sérios, mas as consequências sociais só acontecem quando as regras são quebradas; 4) Intimidade, que transcende todas as nomenclaturas e classificações, emergindo acima da programação do passado e mais recompensadora que todos os jogos. Tem início quando a programação individual, usualmente instintiva, se torna mais intensa e dominante, e os padrões e/ou as restrições sociais deixam de assumir tanto relevo. É a única resposta completa à necessidade de estimulação, de reconhecimento e de estruturação do tempo. (Games People Play, Eric Berne, The Psychology of Human Relationships, 1954).

Género. Construção social, que inclui atitudes, sentimentos e comportamentos que são associados ao sexo biológico de uma pessoa. A identidade de género refere-se à percepção e auto-definição pessoal, enquanto homem, mulher, ambos ou com nenhum género.


I

Individuação. “Significa: tornar-se um ser isolado e, na medida em que entendemos por individualidade a nossa singularidade mais íntima, última e incomparável, tornar-se no seu próprio ego. (...) O processo de individuação é confundido com a tomada de consciência do eu e, assim, o eu é identificado com o ego, o que, evidentemente, provoca uma funesta confusão de conceitos. É que, deste modo, a individuação torna-se simples egocentrismo e auto-erotismo. O ego, porém, compreende em si infinitamente mais do que simplesmente um eu. (...). Ele é tanto ele ou os outros como o eu. A individuação não exclui o mundo, inclui-o” (Jung).


L

Lowen, A. Fundador do modelo de Análise Bioenergética, criou o Instituto Internacional de Análise Bioenergético em 1956. Tem uma vasta obra publicada, que pode ser consultada no site do IIBA.


M

Manifesto Contrassexual. Livro de Paul B. Preciado, que faz uma análise crítica da diferença de género e de sexo, produtos de um contrato social, que nomeamos como natureza, (...) propondo a sua substituição por um contrato contra-sexual. Neste contrato, as pessoas não se reconhecem a si mesmos como homens ou mulheres, mas como corpos falantes e reconhecem os outros da mesma forma, dando a si próprios a possibilidade de aceder a outras práticas significantes, assim como a todas as posições de enunciação enquanto sujeitos, que a história determinou como sendo masculinas, femininas ou perversas, renunciando a uma identidade sexual fechada e determinada naturalmente. A contra-sexualidade é uma teoria do corpo que se situa fora das oposições homem/mulher, masculino/feminino, heterossexualidade/homossexualidade, afirmando que o desejo, a excitação sexual e o orgasmo não são senão os produtos retrospectivos de uma certa tecnologia, que identifica os órgãos reprodutivos como sexuais, em detrimento da sexualização da totalidade do corpo. (Paul Preciado, Manifesto Contrassexual).


N

Neurose. A neurose “é, em certa medida, uma tentativa da pessoa se curar a si própria” (Freud). “A perturbação psicológica quando de uma neurose e a própria neurose, podem ser consideradas como uma tentativa de adaptação mal sucedida” (Jung).


O

Opções. Todo o processo terapêutico movimenta-se em torno de opções e escolhas, de criação, de alargamento e/ou reformulação e de aumento de possibilidades. E de ousar explorar e desenvolver essa capacidade existente e instalada de transformação.

Orientação Sexual. Padrão e modo predominante de fantasias, desejos ou comportamentos emocionais, românticos e sexuais, num determinado período de vida, que pode alterar ou manter-se estável por longos períodos de tempo, que pode ser classificada em 4 tipos: assexualidade, bissexualidade, heterossexualidade e homossexualidade.



R

Rogers, C. Psicoterapeuta norte-americano, a reflexão que levou a cabo relativamente aos aspectos críticos da relação entre terapeuta e paciente (empatia, autenticidade e olhar incondicional) continua a ser considerada um modelo de intervenção. A tarefa terapêutica que deriva da sua abordagem é a de remover os obstáculos ao crescimento, ajudando a libertar o que esteve sempre presente.


S

Solidão. “A maior fonte de terror na infância” (William James).


T

Terapia. É entendida como uma espécie de laboratório, para a exploração dos efeitos negativos de algumas relações. Os padrões relacionais para o próprio sujeito e para os outros, que emergiram das primeiras experiências formativas, são repetidos na relação terapêutica, examinados e modificados num tipo de interacção que não inclui os condicionamentos normais e inibições das relações sociais convencionais e comuns. O processo tem subjacente a ideia de que as relações podem ser igualitárias e co-criativas. Terapeuta e paciente criam, em conjunto, um sistema aberto, no qual pode ser verdadeiramente autêntico e auto-expressivo, de acordo com as suas necessidades. O processo tem por base a convicção relativamente às propriedades transformadoras da relação e que cada pessoa pode encontrar um significado na vida e conectar-se com uma experiência de prazer, através da interacção com os outros e com o meio ambiente, em todas as suas dimensões. (Scott Baum, Encyclopedia of Theory in Counseling and Psychotherapy: Bioenergetic Analysis, 2015).


W

Watzlawick, P. Psiquiatra americano, da escola de Palo Alto, que colocou, com outros, como Jay Haley, Virgínia Satir, Salvador Minuchin, etc, no centro da reflexão e da prática terapêutica, o papel da comunicação e da interacção, das profecias que desenvolvemos e que se auto-realizam, da importância do sistema e do seu papel na emergência e perpetuação dos sintomas individuais.


Z

Zero. Nunca começamos do ponto zero. Não se vai escrever uma história nova. O objectivo é recomeçar, integrando e aproveitando todos os recursos disponíveis e poder fazê-lo de uma forma criativa e gratificante. Com o mesmo protagonista, você, com todos os companheiros de viagem, actuais e passados, (re)descobertos e por descobrir, da sua história única.